Depois da Subida da Serra Negra (Pedra Preta) no Parque Nacional do Itatiaia e uma merecida noite de sono no abrigo Rebouças, onde nos encontramos também com o Flavio Varricchio e Elias Rodrigues que haviam chegado no Sábado à tarde, no dia seguinte acordamos sem pressa, tomamos nosso café da manhã e arrumamos nossas mochilas.
Todos nós - exceto a Paula que foi sozinha para o Morro do Couto - descemos então para o setor Paredão Lambuja de escalada, que fica na estrada do parque sentido Rebouças-Prateleiras (exatamente no km 17). Lá fomos alternando as escaladas e no final havia escalado as 4 vias dessa parede. Foi uma boa hora também para bate-papo, algumas fotos e relaxar depois do dia anterior.
O tempo passou e enquanto o Rafael, Patrick, Flávio e Elias se dirigiam para o Prateleiras o Pedro me deu a sugestão de irmos para o Agulhas escalar a via Bira, que havia sido escalada pelo Davi no dia anterior. Sem pensar duas vezes falei: "vamos embora"! Subimos então para o abrigo, almoçamos um macarrão, o Davi e a Cintia deram algumas dicas sobre a via, o Parofes se juntou a nós pegando algum equipamento emprestado com o Davi e por volta das 13h30 (isso mesmo!) começamos a caminhada rumo ao Agulhas.
A trilha de acesso foi tranquila e subimos em um ótimo ritmo, antes mesmo das 14h estávamos na base da Bira começando a sua escalada. Seu começo é bem tranquilo e óbvio, seguindo embaixo de uma grande parede negativa, sendo que nessa parte nem nos preocupamos em colocar as sapatilhas, o que fizemos só quando chegamos em um lance mais exposto em chaminé.
Continuamos a subida e, em algum momento que não sei qual, acabamos saindo da via. Aparentemente a Bira segue fazendo uma travessia mais para a esquerda mas acabamos seguindo reto por outra canaleta rumo ao alto. Depois, já de volta ao conforto de casa confirmei que entramos na Chaminé dos Estudantes.
Mesmo pressentindo que estávamos fora da via achamos melhor "tocar pra cima" e assim o fizemos. Fomos subindo, subindo e, mesmo sabendo que estávamos fora percebemos que estávamos MUITO fora da via quando chegamos no cume do Pontão Sul. O Pedro foi o primeiro a chegar e enquanto assinava nossos nomes no livro de cume falou com uma voz espantada: "Tacio, onde estamos?". E eu, mais espantado ainda respondi: "FODEU!".
No col entre Pontão Sul e Itatiaiaçu
Já era por volta das 17h30, as últimas luzes do Sol iluminavam as montanhas (visual espetacular da Maromba, Leão e Leoa) e o Itatiaiaçu, cume mais alto do Agulhas e nosso objetivo, se encontrava a distantes 85 m de nós. A distância é pequena e eu havia passado de um para o outro durante a travessia longitudinal do Agulhas Negras, o problema é que o local é um labirinto e não me lembrava do caminho!
Sem perder tempo nós 3 começamos a procurar uma boa descida do cume do Pontão Sul e o caminho para o Itatiaiaçu. Nesse momento nós 3 pensávamos o quanto desagradável seria ter que bivacar quase no cume do Agulhas e ter esperar o dia seguinte antes de começar nossa descida. E não queríamos isso!
Fomos rodando e rodando pelo labirinto de pedras e em alguns momentos em me lembrava de um platô de pedra com furos onde tínha parado pra lanche durante a travessia, uma descida de pedra, subida de outra e com a última luz do dia consegui achar a passagem e chegar na via Quietude que leva diretamente ao cume do Itatiaiaçu. Nessa hora o Pedro e o Parofes também chegaram (cada um estava buscando um caminho) e já colocando as headlamps na cabeça e totalmente no escuro fizemos a escalada da via até o cume do Itatiaiaçu.
No cume do Agulhas Negras à noite
Apesar de estressados, nesse momento pudemos pensar que não íamos passar a noite no cume da montanha. O Parofes aproveitou para assinar também no livro de cume o nome de todos nós e em seguida fizemos o rapel e subimos para o cume Cruzeiro, cume mais frequentado do Agulhas onde todos nós já havíamos estado.
Comemos uma bolacha, bebemos água e começamos então a descida à procura da via Pontão, a mais frequentada. Mas também não foi fácil, com a escuridão total, mesmo com a headlamp não conseguíamos enxergar longe, principalmente quando baixava a neblina, o que fez com que levássemos mais de 1 hora até acharmos a canaleta da descida que leva à base da parede. Mesmo cansados e estressados não perdemos o humor, fizemos mais um vídeo e logo estávamos na base da parede e atravessando o riacho.
Dúvida durante descida noturna do Agulhas Negras
De lá a caminhada foi tranquila e molhada. Não chovia mas a neblina estava muito densa e ia nos molhando aos poucos. Quando estávamos quase chegando no abrigo encontramos o Davi e o Rafael que haviam saído para ver se conseguia "notícias" sobre nós (eles depois falaram que viam nossas luzes no cume à noite) e por volta das 21h30 chegamos finalmente no abrigo. Molhados, cansados, estressados mas finalmente no abrigo!
No abrigo contamos o ocorrido e sobre nosso quase bivac no cume do Agulhas (com certeza foi meu maior perrengue em Itatiaia até hoje), descansamos e com a ajuda do Dom (que preparou o jantar) pudemos matar a nossa fome e em seguida ir dormir.
Esse dia foi estressante e durante a trilha de volta ao abrigo conversamos sobre nossos erros: ter saído tarde do abrigo e ter subestimado a via. Mesmo assim tudo correu bem e durante o tempo todo estivemos com o controle total da situação e chegamos bem ao abrigo (tarde mas bem). E todo perrengue assim é bom, além de te ensinar a não cometer (ou minimizar) alguns erros, você também amplia seu nível de conforto e fica mais preparado para os próximos perrengues :-)
No dia seguinte acordamos sem pressa e, para evitar o trânsito no retorno para São Paulo arrumamos nossas coisas, fechamos o abrigo e fomos embora. Fiz ainda uma pausa na garganta do registro (com as bancas reestruturadas, tá virando um shopping) para comprar mel, comer milho e um pastel e depois pausa só para combustível e para um lanche antes de deixar a Paula e o Parofes em suas casas.
Esse feriado foi muito proveitoso, fizemos meia travessia serra negra e subimos o Morro do Cristal, completei meu Projeto 2010 e todas as montanhas do SE de acordo com o anuário do IBGE com a Subida do Pico Serra Negra e fizemos essa boa mas tensa escalada no Agulhas Negras. E mesmo tendo subido todas as montanhas do PNI ainda há muito o que explorar, as idéias de novas rotas e travessias já começam a passar pela cabeça, mas isso ficará para a próxima temporada.