Com os incêndios no PN Itatiaia nas últimas semanas a reserva que o Alessandro havia feito para o Abrigo Rebouças no feriado foi cancelada. Com isso tivemos que partir para nosso Plano B, duas montanhas remotas e pouquíssimo visitadas na Serra Fina.
Com tudo acertado com a Paulinha, Parofes e Edson (que confirmou na última semana), na Sexta-feira, dia 03/09, pegamos estrada no começo da noite e às 0h45 passávamos pelo bairro do Paiolinho e estacionávamos o carro na Fazenda Serra Fina. Minutos depois arrumamos nossas coisas e o Edson e o Parofes bivacaram enquanto a Paulinha e eu dormimos no porta-malas do carro.
No dia seguinte acordamos com o despertador às 6h, tomamos nosso café da manhã, arrumamos as mochilas e às 7h começamos a trilha que leva ao cume da Pedra da Mina. Pouco tempo antes havia começado a subir um grupo grande de Virgínia (infelizmente) mas logo fomos alcançando os farofa-caipira e às 9h fazíamos uma pausa e carregávamos nossas garrafas no último ponto de água da subida.
Continuamos a subida e com receio de ter mais gente na trilha e não conseguirmos local para acampar no cume da Pedra da Mina (todos sabíamos que o feriado de 7 de Setembro é o mais procurado por farofeiros e ecoturistas guiados por empresas) o Edson e eu resolvemos ir na frente enquanto o Parofes e a Paula seguiam mais devagar. Fomos subindo fazendo algumas poucas pausas e às 12h50 chegamos ao topo da Pedra da Mina, felizmente vazio.
Ficamos um tempo descansando, 30 minutos depois chegaram o Parofes e a Paula e pouco depois outra pessoa vindo do Alto do Capim Amarelo. Nessa hora resolvemos então começar a montar nossas barracas e algumas horas mais tarde, quase junto com o pôr-do-Sol, chegou a lotação de Virgínia. Nessa mesma hora, após algumas fotos começamos a cozinhar nosso jantar e em seguida fomos deitar.
O começo da noite foi realmente um inferno! O bando de Virgínia, como é comum em boa parte do pessoal que vive ao redor de montanhas e tem zero de cultura, só havia subido para fumar maconha, beber conhaque (sei que era conhaque porque me ofereceram), fazer sujeira (deixaram lixo espalhado no cume) e baderna. Além da conversa alta tinha até babaca bêbado andando de um lado para o outro do cume com um radio de pilha no último volume. Realmente lamentável. Mas tirando esse incômodo o resto da noite correu bem, não fez muito frio e no dia seguinte novamente acordamos às 6h com o despertador.
Tomamos nosso café-da-manhã, arrumamos nossas mochilas de ataque, trancamos as barracas e às 7h25 começamos a caminhada para a meta mais difícil da viagem - e provavelmente a mais difícil do meu Projeto 2010 - o Pico Cabeça de Touro. Descemos rumo ao Vale do Ruah, o atravessamos aproveitando para pegar água, começamos a subida da crista pela trilha da travessia da Serra Fina e fomos em direção ao Cupim de Boi, onde chegamos às 10h55. No cume 10 minutos de descanso e lanche e começamos então a procurar um caminho viável para a descida para o colo entre ele e o Cabeça de Touro.
A descida foi quase toda desescalada em trepa-pedras mas logo chegamos em uma parte pior: o colo entre as montanhas. Esse trecho foi mais trabalhoso e como não havia trilha tivemos que atravessar abrindo caminho no meio de Capim Elefante (um capim que chega a mais de 2 metros de altura e se entrelaça tornando sua travessia um martírio). O tempo foi passando e às 11h50 vencíamos esse trecho e começávamos então a subida final para o cume da montanha, agora por lajes de pedra e escalaminhada, chegando ao seu cume às 12h40.
No cume do Pico da Cabeça de Touro fizemos uma longa pausa para lanche, fotos e para assinar o livro de cume que fica no totem do topo dentro de uma marmita. No livro, colocado lá provavelmente em 1992 (data do primeiro registro no mesmo), só haviam 6 relatos de grupos no cume até nossa chegada, sendo o mais recente em 2008. Deixamos também nossos nomes - por coincidência era também o 7º cume alcançado do meu Projeto 2010 - e às 13h20 começamos o longo caminho de volta.
O começo da descida foi tranquila e logo estávamos atravessando o colo entre o Capim Elefante (agora mais facilmente já que seguimos o mesmo caminho da subida). De lá o trepa-pedra e às 14h55 passávamos novamente pelo cume do Cupim de Boi e seguíamos pela sua crista novamente rumo à Pedra da Mina, nosso acampamento base.
O retorno foi bem cansativo, o Sol se pôs enquanto estávamos atravessando o Vale do Ruah e durante a subida final para o cume da Pedra da Mina passamos pelo grupo de turistas guiados pela Pisa Trekking. Acho que eles podiam até colocar em sua propaganda: "Inclusão Pisa: a única especializada em levar deficientes para a Serra Fina". Falo isso porque enquanto subíamos e passávamos por uma fileira de turistas um dos guias descia de braços dados com um deles, quase o carregando, e outra guia ainda justificava falando que ele tinha "problemas". Mas felizmente nosso contato com eles durou apenas uns 3 minutos (mais que suficiente para perceber como eles fazem qualquer coisa por dinheiro) e seguimos nosso caminho rumo ao cume, onde chegamos às 19h35 para o merecido jantar e tranquila noite de sono (os Virginianos já tinham ido embora - e deixado lixo por onde passaram).
A ida até o Cabeça de Touro é bem longa e cansativa. A distância da Pedra da Mina (nossa base) até ela é um pouco maior que a distância da Pedra da Mina até o Pico Três Estados. E para piorar, a travessia até o Três Estados é normalmente feita em um dia e existe trilha aberta, para o Cabeça de Touro por mais de 1 km não há trilha e ainda fizemos o caminho ida e volta, mas valeu a pena e graças ao cansaço tivemos uma boa noite de sono.
No dia seguinte acordamos mais tarde, por volta das 7h, tomamos nosso café da manhã e às 8h15, novamente com mochila de ataque e barracas trancadas, começamos a descida da Pedra da Mina rumo ao Morro do Tartarugão, nossa outra meta da viagem.
O começo da descida foi tranquila, passamos por mais um grupo de turistas, pegamos água no riacho e às 9h35 estávamos na Cachoeira Vermelha procurando um local para atravessar o charco e seguir por uma crista que possivelmente nos levaria até a base do Tartarugão. Fomos olhando e caçando o caminho até que conseguimos atravessar. De lá seguimos pela crista seguindo por rocha onde dava e atravessando mais um pouco de Capim Elefante quando éramos obrigados.
Com o cansaço do dia anterior pesando nas pernas a subida foi lenta e chegamos ao cume às 10h40. No cume mais uma longa pausa para lanche, fotos e infelizmente nenhum livro de cume. Há um pote com um papel estragado - impossibilitando saber de quando é o registro - e também não levamos papel ou caneta para deixar nosso registro por lá. Mas tudo bem, com tudo marcado no GPS e mais algumas fotos às 11h05 começamos a descida.
A descida foi bem rápida e em vez de voltar pela crista lateral voltamos pelas lajes de pedra em frente, caminho que o Edson havia feito para subir enquanto a Paula, Parofes e eu seguiamos pela crista. O Edson teve sorte e esse caminho é muito mais direto e com apenas um trecho de Capim Elefante (e facilmente atravessado). De volta à Cachoeira Vermelha mais uma pausa para lanche e fotos e de volta à trilha da travessia seguimos novamente para o cume da Pedra da Mina (o Edson acelerou na frente e ainda fez um bate-volta no Morro do Avião).
Chegamos no cume da Pedra da Mina às 13h15, almoçamos e enquanto arrumávamos as coisas o Edson também chegou. Como o clima estava piorando e a previsão do tempo realmente previa tempo ruim nossa decisão foi descer no mesmo dia para o Paiolinho - e com isso poderíamos pegar estrada mais cedo e evitar trânsito da volta do feriado para SP.
Arrumamos nossas coisas, desarmamos nosso Acampamento Base no Cume e às 14h40 começamos a trilha de descida. A descida foi longa e fizemos apenas uma pausa na água para lanche e às 19h30 chegamos no carro.
Bem cansados com os quilômetros horizontais e verticais acumulados nos últimos 3 dias (36 km percorridos e 3700 m de desnível acumulado pelos meus registros no GPS) mas realizados pela meta concluída preparamos nosso jantar e em seguida fomos dormir.
No dia seguinte acordamos sem muita pressa às 7h, arrumamos as coisas e logo começamos a descida para Passa-Quatro a procura de uma padaria para tomar nosso café da manhã. Em uma travessa da avenida principal da cidade (onde aconteciam desfiles de 07/Set) tomamos nosso café (que delícia um pão na chapa uma hora dessas!) e pouco tempo depois, às 9h, estávamos no carro pegando estrada de volta para São Paulo.
No caminho da volta só uma pausa para combustível e ducha no carro e por volta das 13h, depois de uma boa chuva na estrada - já era hora - estávamos em SP. Deixei o Edson no terminal Tatuapé, a Paula e depois o Parofes em suas casas e finalmente cheguei em casa para o merecido banho e descanso.
O ritmo dessa viagem, assim como as trilhas, foi bem intenso. Em 3 dias percorremos muito mais que a própria travessia completa da Serra Fina e com um bom trecho sem trilha aberta, mas valeu muito a pena e nosso objetivo foi alcançado: cume do Pico da Cabeça de Touro e Morro do Tartarugão, respectivamente as 17ª e 19ª montanhas mais altas do Brasil segundo o anuário estatístico do IBGE. Além disso, mesmo a travessia da Serra Fina sendo uma travessia já tradicional no Brasil (eu mesmo a percorri inteira pela 1ª vez em 2002 e fiz minha primeira subida até a Pedra da Mina em 2001), dessa vez fomos com foco nas montanhas esquecidas da Serra Fina, que são tão espetaculares (ou até mais) que os cumes alcançados durante a travessia em si.