Há uns 3 anos, quando subi pela primeira vez o Pico do Garrafão (Serra Santo Agostinho) uma montanha não muito distante me chamou atenção: ainda não sabia o seu nome, onde ficava, qual o acesso, sua altitude mas seu formato piramidal quase isolado entre outras mais baixas fez acender o interesse. Algum tempo depois, com o Parofes, olhei novamente essa montanha e agora não tinha mais retorno, eram dois querendo conhecê-la.
O tempo foi passando, as pesquisas aumentando e descobrimos que ela se tratava do Morro da Mitra do Bispo, ficava em Bocaina de Minas, próximo de Alagoa e que era possível chegar ao seu cume, mesmo com os raros relatos que encontramos.
Mais tempo foi passando, algumas tentativas de ir para lá não deram certo mas, no dia 23 de Julho, depois de ter feito a travessia Marins-Itaguaré com a Aline nos dias anteriores, nos encontramos com o Parofes na cidade de Cruzeiro (SP), almoçamos e logo nós três seguimos estrada rumo a Alagoa, cidade que acessamos a partir de Itamonte.
Apesar de distante e com estrada de terra não muito boa a viagem foi tranquila. No caminho várias pausas para fotos e durante boa parte do percurso avistávamos a Mitra no horizonte. Fomos seguindo, chegamos na cidade de Alagoa e junto a um relato impresso e um planejamento de caminho que havia feito e colocado no GPS, fomos cada vez nos aproximando mais da montanha.
Chegando mais próximos, vendo diferentes cristas tentamos nos informar com algumas poucas pessoas que encontrávamos pelo caminho e logo alguns nomes eram repetidos: "Betinho" e "Casa da Vivian", o que era um bom indício de terem realmente entendido que queríamos ir para uma montanha em vez de nos mandar para uma cachoeira.
Fomos seguindo (coincidentemente as indicações que nos deram eram exatamente o que eu havia planejado pelo Google Earth) e, com o chegar da noite, parávamos o carro onde fica a "Casa da Vivian" e mora o caseiro "Betinho". Logo que chegamos o encontramos e ao perguntar se podíamos acampar ali (tem uma grande área plana) ele disse: "dorme na casinha branca". Então, sem que ele precisasse insistir muito, lá fomos. Apesar de não existir energia elétrica a casinha é muito confortável. Conta com 3 quartos pequenos onde encontramos alguns colchões (mas para evitar alergia nem cheguei perto deles), uma sala-cozinha com pia e fogão a lenha e um banheiro do lado de fora. Muito mais conforto do que esperávamos.
Com a luz de velas (ainda fornecidas pelo Betinho após sua insistência) fizemos nosso jantar, algumas fotos noturnas e então esticamos os isolantes no chão, abrimos os sacos de dormir e fomos deitar.
No dia seguinte, 24 de Julho, o Parofes madrugou para fazer umas fotos como nascer do Sol mas a Aline e eu só nos animamos a sair da "cama" por volta das 7h. Levantamos, fizemos o café da manhã, arrumamos as coisas, ajudamos a tirar algumas dezenas de espinhos de ouriço de um cachorro que resolveu se encrencar com um e, com as coisas guardadas no carro e só com uma mochila de ataque, por volta das 9h começamos a caminhada rumo à Mitra, junto do Betinho que disse que nos mostraria parte do caminho.
O começo da caminhada foi voltando pela estrada que dá acesso à casa e, depois de 10 minutos, começa a subir para a crista em uma trilha bem aberta e marcada. Fomos subindo sem parar muito, só para algumas poucas fotos (nem levei a câmera de "verdade" para ela já que o clima estava bem nublado) e o caminho era bem óbvio: seguir pelas cristas até a base da montanha, de onde se ataca seu cume.
O Betinho foi até o final da primeira crista antes de começar a descer para seguir pela lateral e de lá seguimos sozinhos, por uma trilha que algumas vezes ainda se mostrava bem aberta e em outras fechava e dava pra perceber que era pouco usada, tendo que em alguns casos reabrir alguns pequenos trechos recém fechados com galhos e bambus.
Fomos seguindo tentando enxergar onde um dia foi uma trilha mais aberta e logo estávamos na base da parede mais vertical, a 2071m, de onde começamos uma escalaminhada por rocha e mato, passando por um cantoneira que deve ter sido colocada por lá para facilitar a descida há algumas décadas.
Cume da Mitra do Bispo
Continuamos subindo, subindo, nos preocupando um pouco em como seria descer por ali (desescalar é sempre pior), chegamos em um trecho menos inclinado mas com mais vara mato e, por volta das 11h30, estávamos em seu cume coberto por vegetação (árvores!) que impediu que tivéssemos uma boa vista do local (e o clima também não colaborava).
Ficamos um bom tempo no cume fazendo um lanche, fotos, vídeos, marquei o ponto e verifiquei no GPS a altitude (2200 m) e depois fomos então procurar algum caminho alternativo para descer, o que fez apenas com que perdêssemos tempo e no final resolvemos voltar pelo mesmo caminho da subida. Apesar de preocupados com a verticalidade do trecho final e os matos úmidos a descida foi bem mais tranquila do que esperávamos e logo estávamos novamente na base da parede seguindo pela trilha de volta.
Descendo do cume da Mitra do Bispo em Bocaina de MG
De volta ao carro no começo da tarde acabamos de guardar as coisas, umas fotos finais, nos despedimos do grande e prestativo Betinho e às 14h45 seguimos nosso caminho por uma estrada que só dá para seguir com 4x4 em alguns trechos (ou se a pessoa não tiver dó nenhuma do carro e resolver passar buracos subindo e no embalo) e depois de algumas longas horas, às 17h chegamos a Aiuruoca, onde passamos a noite para mais montanha no dia seguinte. Mas isso é tema para o próximo post ;-)