
Ontem à noite assisti o documentário
Salvando o capitalismo (Saving capitalism) (2017), apresentado e baseado no livro de Robert Reich, disponível no
Netflix (mais sobre no
IMDB.
Obs: Se você não assina Netflix nem compartilha o acesso com alguém procure na internet que você encontra para download. Inclusive recomendo usar o browser
Brave, que não te rastreia como o Chrome, e fazer buscas no
DuckDuckGo, que não limita os resultados apenas a anunciantes e o que ele acha que "pode", como faz o Google.
Mas, voltando ao tema, o documentário em si, ele mostra uma visão de como o capitalismo desviou para uma vertente que não favorece a população, mas que gera cada vez mais privilégios para poucos da elite financeira/política (acho que, hoje em dia, financeiro e político são palavras que nem podem mais serem facilmente separadas). Os argumentos e dados são todos baseados na economia americana (o autor foi secretário no governo americano e é professor de economia), mas podem muito bem serem "extrapolados" para nossa grande pátria verde-amarela (com ressalvas). E ai que entra o que eu gostaria de escrever sobre o tema e sobre alguns pontos que me chamaram atenção.
O capitalismo
Em primeiro lugar, apesar do capitalismo ser, de uma maneira prática, o único sistema que deu "meio certo" até hoje (para entender o "meio certo" é só olhar ao redor as desigualdades, o descaso com o planeta onde vivemos e a função real do marketing e das empresas) não o apoio porque suas ideias podem ser interessantes, funcionais, mas dependem de um grande problema que acaba com suas premissas de oportunidades e igualdade: o ser humano.
No meu mundo da fantasia, meu mundo ideal, minha utopia impossível de acontecer e de funcionar todas as pessoas teriam liberdade de viver sua vida como quisessem, desde que não interferissem na vida alheia, ou seja, um anarquismo liberal. Entretanto, temos o ser humano na equação e, por mais que qualquer pessoa venha a ser contra, o egoísmo é a ferramenta que mais "funciona" no ser humano.
Não é difícil (ou melhor, é muito fácil) uma pessoa escolher algo que prejudique outra pessoa para benefício próprio. E, você mesmo que está lendo e concordando, você é egoísta. Mesmo que você não esteja desenvolvendo um produto para aumentar os lucros de sua empresa de modo que sejam necessários menos funcionários (parabéns por diminuir a oferta de empregos e provavelmente produzir algo desnecessário, como a maioria das empresas fazem), o que você faz, mesmo que seja caridade ao ajudar uma ong, é por uma recompensa egoísta, mesmo que apenas psicológica. Então não acho que exista uma "classe de seres humanos não egoístas" que faria o sistema funcionar e ele está fadado ao fracasso.
Atuação do governo
Novamente, em um mundo ideal, o governo existiria (quando necessário) apenas para proteger a população dos desejos egoístas das outras pessoas (nem precisaria existir se as pessoas não fossem egoístas). Mas, novamente, o governo é formado por pessoas (adivinha? pessoas egoístas) então, como o documentário fala e não é nada diferente do que vemos no Brasil, é absurdamente comum ver o governo sendo comprado por grandes empresas de modo a terem vantagens (isso de forma "velada" como doação para campanhas, quando não é tão explícito quanto bolsas de dinheiro entregues pessoalmente - logo eles se informam sobre bitcoins e outras moedas virtuais...). Ou será que alguém acha que uma empresa doa milhões para um candidato porque sua proposta de governo vai ajudar a população?
E, com esse governo, vemos cada vez mais as grandes empresas e o moradores do topo da pirâmide econômica tendo subsídios, investimentos, perdão de dívidas enquanto aumentam sua fortuna investindo em um sistema que gere mais lucro baseado na exploração da base (se você está lendo isso você é base, não se ache especial, já conheci algumas pessoas do "topo" e elas vivem em outro mundo que você não tem acesso - nem eu - , você não é "igual" a eles e não participa do mesmo mundo - nem existe uma porta para atravessar para ele - pelo menos acho que não exista honestamente ou sem indicação).
Então, a influência do governo não funciona porque ele é baseado na ganância dos governantes e não ter o governo regulamentando também não funciona porque promove a liberdade das pessoas fazerem tudo que querem - se pensar um pouco dá para entender que isso mostra que nem o capitalismo, nem o comunismo, nem o anarquismo podem funcionar de uma maneira que dê oportunidades reais para todos.
O dogma da democracia
Esse é um tema que difere (de certo modo) com o que o documentário defende: a democracia. Mas antes de realmente expressar o que eu penso da atual "democracia" devemos lembrar que, mesmo com tantos problemas de desigualdade e crises, como é mostrado no documentário, os EUA ainda são um país onde a educação é valorizada e recebe investimentos um "pouquinho" maiores que no Brasil, que está cada vez mais sucateado (e se você pensa que isso só está acontecendo por causa do governo atual ou que só aconteceu por causa do anterior você é muito otário, continue lendo para entender sua ignorância).
No Brasil, sem investimentos básicos em educação (e básicos mesmo, desde a pessoa aprender a ler e fazer contas de adição), sem formação de uma população pensante, questionadora (você é contra as matérias de filosofia, sociologia etc.?) até uma formação decente de profissionais para mão-de-obra e pesquisa temos uma população ignorante e limitada. E não adianta falar daquele "escolhido" que conseguiu superar na vida, criar algo útil para a humanidade porque ele é um em milhões, ele não é o esperado na população, ele é o ponto fora da reta. Tem sido até comum as pessoas enaltecerem a pesquisa no Brasil (não que não seja importante, com certeza é e devia receber muito mais investimento que recebe), mas pense no mundo real: os grandes pesquisadores brasileiros são grandes porque foram embora do país, nenhum brasileiro ganhou um Nobel - mas isso seria tema para outra postagem.
Voltando para o caso do investimento em educação, sem a formação de uma população consciente do mundo em que ela vive (leia-se: alienada) a democracia não funciona. O que adianta as pessoas baterem no peito felizes por terem a oportunidade de eleger quem os governará se elas elegem o que mais vão piorar suas situações? E no "ideal" de democracia todos participariam, nem que por um dia, de alguma função importante, não é o mesmo significado atual de escolher uma pessoa para tomar todas decisões para você (e pior, ainda acreditando que essa pessoa cumprirá suas promessas de marketing de compra de voto para realmente trazer algum benefício para você). Você acha que é por ideologia que pessoas com fortuna entram para o governo para receberem seus baixos salários (sim, em comparação com o que eles tem é baixo, é esmola, se para você o salário dos políticos é alto - para mim também é - só mostra como estamos longe desse mundo, não que ele não existe).
Mas resumindo: em um país com população majoritariamente ignorante não adianta defender, cegamente, como se fosse uma religião, a democracia, já que a maioria que elegerá os governantes não será quem tem consciência, estudado ou boa intenção, será apenas a maioria numérica que vendeu seu voto para quem está no topo da pirâmide em troca de uma vida futura (parece até religião, não?).
Influência nas escolhas, desigualdade e mudança social
No mundo ideal da democracia a SUA escolha faz diferença para que o governo tome ações em seu benefício (se quiser ser ideologista mude a frase para "as escolhas do povo para benefício da população" - mas notou que no fundo é tudo benefício próprio?), mas não acontece assim. Como mostra no documentário, as ações do governo são baseadas no benefício das empresas "inocentes" que fazem doações (que estranho, não é? Por que fariam isso?). Então, imprimir com seu Mac um cartaz pedindo "direito de voz" e ir desfilar na Paulista só vai fazer diferença se antes você tiver enviado uma cópia com papel timbrado para o governo (obviamente timbrado com o nome da empresa que fez doações), senão é apenas mais um dia de desfile de carnaval com as pessoas fantasiadas de "tenho influência no governo".
E, com essa influência praticamente inexistente (o documentário mostra que nos EUA também é assim), o alto escalão das grandes empresas sempre aprovará (ou melhor, definirá) regras que os beneficie. Ai você pensa: mas é livre comércio, eles podem fazer isso para sua empresa. Sim, eles podem, existe uma diferença entre o que é legal e o que é moral, mas não esqueça que além desse benefício para a empresa, seus diretores, "CEO"s (ainda acho esse termo estúpido para essa forçação de barra da globalização), seus investidores, eles também estão aproveitando para usar uma mão de obra o mais barata possível (você). Eles não estão repassando para os funcionários da base, que fazem a empresa funcionar, os seus ganhos (ou você acha que a "participação de lucros" é porque eles se importam com você e o que eles te dão é realmente quanto você merecia pelo que fez pela empresa?). Então, de um lado eles aumentarão as desigualdades sociais na população e do outro lado também aumentarão a desigualdade.
Além disso, aquela história do motoboy que chegou a presidente de uma empresa aconteceu há 40 anos, certo? Conhece algum caso atual de "mudança de classe" que tenha sido com esforço em vez de ser por alguém ter criado algo que o marketing diz que você precisa e aproveitando para usar mão de obra barata e vender uma "experiência"? (não consigo entender como tem pessoas reais que usam Apple e Nike, entre outras). Então, como o documentário também defende, houve mudanças no sistema capitalista e cada vez mais a desigualdade é maior e as mudanças sociais mais difíceis (chega de se prender na história de vida de Henry Ford tentando a aplicar aos dias atuais, pense na história dos criadores das redes sociais, como seus bilhões são benéficos para diminuir a desigualdade social - ou até mesmo das "Startups" - outro nome estúpido - que valoriza quem cria algo para um problema a um custo bem menor, aproveitando a "liberdade" da economia - seu emprego, sua profissão, seu ganha pão já foi sucateado por algo que faça o que você faz por 1/10 do valor? ainda não? calma, essa hora vai chegar!).
Liberdade de expressão
Acho que esse tema pode até ser entendido um pouco no que falei sobre a influência que uma pessoa normal tem no governo, mas hoje vi uma coisa na internet que mostra mais ainda como nossa influência é zero e que a liberdade de expressão que temos é condicionada a escolha de empresas (adivinhe? acha que é pelo seu bem ou por lucro?): ontem o youtube excluiu diversas contas de usuários por causa dos seus temas e postagens. E já adianto que a ideia nessa postagem não é sobre "o tema" em si (posso até escrever sobre isso outra hora), mas que tanto faz "o tema".
Você acha "normal" uma empresa decidir o que é o "melhor" para você, sendo que a função de uma empresa é gerar lucro para seus acionistas e não proporcionar condições para toda a população (novamente, saia do mundo da fantasia e olhe o mundo real)? Você fica feliz quando um tema é proibido, excluído (falar censurado não pode né?) porque uma empresa acha que isso é "bom para a sociedade" e concorda com os SEUS ideais? Meus parabéns, né? Por enquanto não decidiram "ser proibido" postar à favor (ou contra) o governo, ser à favor (ou contra) o uso de drogas, ser à favor (ou contra) as pessoas terem armas, ser à favor (ou contra) a liberdade de expressão etc. etc. etc.
Sorria! Você ainda tem total liberdade de expressão para postar o que eles permitem!!!
Fechando
Só fechando, um ponto que vi no documentário e que também me fez refletir: uma hora o apresentador fala sobre "valores mais altos para serviços de internet, saúde etc. nos EUA que nos países em desenvolvimento". Isso para mim não foi uma metáfora, uma extrapolação, fazendo de conta que ele não sabe que em países como o Brasil os valores são mais altos e com qualidade pior. Acho que isso só significa que o Brasil nem é visto como "país em desenvolvimento" por eles (e estão errados? sem educação básica, com essa população alienada você realmente acha que nossa pátria amada tem alguma função além de fonte de recursos naturais e compradores de lixo importado?).
E concluindo: você acha que eu só falei, falei, mas não concluí nada e não dei uma solução? Exatamente! Ou você esperava que eu tivesse a solução para os problemas do mundo como já venderam para você que alguém tinha?
Não precisa pensar como eu penso, apenas pense, já é um grande avanço.
As pessoas se satisfazem e aplaudem por terem ?liberdade de expressão? para dizer tudo que está dentro da lista de regras das atuais grandes empresas de dados chamadas redes sociais.
- enviado por Tacio Philip às 13:47:27 de 06/06/2019.
< Anterior: Cansei do alcance das redes sociais |
Listar publicações |
Próxima: Travessia da Serra do Lopo - parte da Transmantiqueira - e outras atividades >