Meu ingresso
Há 20 anos, em 1997, ano que ingressei na faculdade, tive meu primeiro contato com a internet. Lembro que foi através de um plano básico de acesso discado usando o meu primeiro computador (já um Pentium II - ou era III? - com 16 Mb RAM e HD 2GB), uma linha telefônica com a qual me conectava após a meia-noite para não gastar "pulsos" e o meu moderno modem USRobotics 33.6 kbps (mesmo raramente conectando nessa velocidade). Munido dessa "machina", eu tinha direito a impressionantes "10 horas mensais de acesso à internet" via um discador que veio, por correio, em disquetes, da UOL!
Ainda peguei um vestígio final de BBS, que não cheguei a usar muito, mas a internet já impressionava por permitir troca de emails (uau!), acesso a sites dos mais diversos assuntos quando, muitas vezes, você nem se sabia que existiam mais pessoas que gostavam do mesmo tema que você e, sem poder deixar de fora, as famosas salas de bate-papo do UOL, que "conectavam pessoas" dos quatro cantos do planeta (ops, usar esse termo é perigoso, falar hoje em dia em "canto" já podem criar material que comprove a "Terra plana").
Foi nessa mesma época que montei meus primeiros sites: um site pessoal (um pré-blog já que não havia - ou eu nem fazia ideia que existiria - ferramenta para publicação frequente de conteúdo - e muito menos fotos, nem scanner eu tinha), um fã-site dos filmes Hellraiser (filme que sempre gostei - e gosto) e o hpclub, que me permitiu, em 1998, encontrar muitos outros "malucos" fãs de conhecimento sobre suas poderosas calculadoras hp48g (o que acabou se tornando uma das minhas "profissões").
O tempo foi passando, a internet crescendo, logo consegui um moderno plano com horas ilimitadas de acesso à internet (apesar de ainda via telefone, continuando a acessar sempre depois da meia noite ou finais de semana) e a "rede" ia aumentando em conteúdo, em profundidade nos seus temas e, no que hoje é chamado de "network", ou seja, contatos entre pessoas, inclusive com o aparecimento do ICQ (o meu UIN era 3833195) e seus similares.
Mais tempo se passou, o acesso discado ficou gratuito (em troca de propagandas, o que predizia o que aconteceria com a internet futuramente), em alguma época eu já tinha um acesso via cabo ilimitado e com uma boa velocidade - via rádio, até roubarem os aparelhos do topo de prédio - e eu ter que mudar para o padrão cabo via linha telefônica, mas sem usar o telefone, leia-se: speedy. Foi por volta dessa época que me formei (em 2002) e via algum futuro no comércio na internet, sendo que vivi durante um bom tempo baseado nisso (e ainda hoje meu trabalho é 99% ancorado na internet, seja pelo conteúdo online quanto pelo meio de divulgação).
Foi também, mais ou menos nessa época, que usava buscadores como o yahoo ou cadê que, aparentemente, me davam o resultado que precisava, de acordo com o conteúdo publicado nas páginas encontradas - conhecimento tal que crescia exponencialmente mas ainda era escasso em muita coisa. Logo apareceu o google, um buscador com uma cara minimalista (a quantidade de informações, links, imagens, banners etc. que apareciam em qualquer site, naquela época, assustaria qualquer designer de hoje em dia e faria usuários de iPhone ter ataques histéricos). Além disso, era rápido, muito rápido, o que fez com que logo derrubasse seus rivais e assumisse o controle do que seria divulgado.
O Boom
Com o tamanho da internet crescendo (em conteúdo e em número de viciados), começou a surgir, ou melhor, inventaram a necessidade das "redes sociais". Nesse novo estilo de site, os "usuários", em vez de andarem perdidos aleatoriamente em cidades de conteúdo imensas, teriam agora o seu "boteco" para se manterem seguros e abraçados aos seus "amigos", alimentando seu vício social e deixando de lado a função "busca por conteúdo" da internet. Acho que nessa mesma época veio também o tiro de misericórdia nos chats, que já agonizavam por conta de ICQ, MSN e outras dúzias que faziam a mesma função e, com as próprias redes sociais fazendo essa função, os comunicadores de mensagens aproveitaram o embalo e também foram para baixo da terra.
Com as redes sociais, na época usei o orkut, as pessoas "se encontraram". A internet deixou de ser apenas um ambiente para busca de conteúdo ou conversas aleatórias e passou a ser "um ponto de encontro" de amigos-de-longas-distâncias.
Até aí, tudo bem, a internet te dava conteúdo, conectava pessoas distantes e seu acesso era cada vez mais fácil e maior. Foi então que surgiram as "comunidades": guetos que começaram a reunir "especialistas" nos mais diversos temas, que aprofundavam suas teses baseados em trocas de postagens públicas com outros "tão especialistas" quanto eles e, então, começou a proliferação de conteúdo de baixa qualidade (antes disso, mesmo com o surgimento e facilidade de postagem dos novos "blogs", o alcance de quem produzia conteúdo medíocre ficava limitado a sua "meia dúzia" de amigos que tinham o link de sua página, os buscadores, pelo menos aparentemente, ainda priorizavam conteúdo).
Com as comunidades, dos mais diversos temas, gerando "conteúdo acessado por pessoas" e os sites buscadores precisando "fazer dinheiro" com propagandas, acho que logo notaram que o número de seguidores de teorias da conspiração, pseudociência, novas religiões, alienígenas do passado-presente-e-futuro, curas alternativas de doenças recém inventadas e, como sempre, sexo, "vendiam" mais, conseguiam reunir mais "seguidores" - ou seja, mais clientes - a prioridade de retorno dos buscadores passou a ser o que daria mais "clics" (leia-se: retorno financeiro) e a qualidade de conteúdo foi ficando de lado. Acho que, seguindo essa mesma onda, os blogs "vazios" de conteúdo criados por "especialistas" começaram a ganhar espaço (e veja o google, os primeiros resultados mostrados não são os que mais de adequam, são os que mais pagam para eles, seja diretamente ou seja por mais divulgação).
A era do tudo pode e todos tem voz
Com as coisas começando a ficar ruins, mas ainda sem saber quanto poderiam piorar, apareceram os smart-phones e seus dumb-users (viva a Apple e seu fã clube). Foi o começo do fim. Agora, em qualquer lugar, a qualquer hora, qualquer especialista podia defender sua tese baseada em seus achismos e em toda sua bagagem cultural global (global de "TV Globo", não de "Globo Terrestre"), sobre sua área de "conhecimento", nas redes sociais e em suas páginas. E, lembrando de uma antiga propaganda: "e não é só isso!", o acesso agora era rápido, a quantidade de bits transmitidos não importava mais e, unindo isso a pouca vontade (e menos tradição) de leitura da população, vieram os vídeos, obviamente com edições para serem curtos, sem espaço entre frases - afinal, ninguém pode perder tempo e o que foi falado agora já é passado e sobre o que estavam falando mesmo? Olhe! Um gatinho brincando com a bolinha!!! Um meme - hahahaha! Curti!
O hoje
Hoje, se você olha a internet, provavelmente seu maior uso seja para acesso às redes sociais e, seu maior modo de acesso, os telefones. E mais, todos têm sua voz e seu grupo para defender sua opinião (seja ela absurda ou não). Apesar da popularização ao acesso à informação ser um grande avanço - pelo menos em termos teóricos - não é o que vejo acontecendo.
Com o acesso à informação literalmente em suas mãos (quem lembra como era ir a uma biblioteca pesquisar um tema em uma enciclopédia ou em um livro da década de 60 cheirando mofo?), vemos cada vez mais a proliferação de informações falsas, defesas de teorias do absurdo e o surgimento de milhares de especialistas-gurus-quânticos-meditativos e seus discípulos-seguidores que assimilam todo seu conhecimento, adquirido através de filosofia-ayahuasca-gnômica-meditativa, com suas conclusões, "comprovadas pela ciência", desde a existência de deus baseado em mecânica quântica até que a Terra é plana a partir de uma cuidadosa observação de uma régua e linha do horizonte no mar (e porque, obviamente, a água escorre em uma bola de futebol).
De um modo pessoal, realmente não importa o que a pessoa acredita, faz, deixa de acreditar ou deixa de fazer (cada um cria seus monstros como quiser). Entretanto, vivemos em uma sociedade onde, em muitos casos, além do fato do disseminador de "suas teorias" usar a ignorância alheia para pagamento de seus boletos (até aí ainda passa, só existem muitos espertos porque existem muito mais otários), essa proliferação de conteúdo falso é um desserviço à humanidade e só faz com que, a beira do abismo, fechemos os olhos, demos um giro de 360º e um longo passo adiante.
Então, como um pedido, ou melhor, uma sugestão final dessa postagem (sei que o alcance vai ser muito menor que alguma "revelação metafísica que irá mudar sua vida a partir de amanhã" em algum site "gerador de conteúdo"), só pense. Não precisa pensar como eu penso. Não precisa concordar com meu ponto de vista. Mas pense. Só isso. Pense ao ler algo, pense ao "curtir" algo, pense ao "compartilhar" algo e, se pelo menos acha que meu ponto de vista tem alguma lógica e pode ajudar um pouco a tentar frear esse trem de adubo desgovernado, o curta e compartilhe também!
Se você não sabe alguma coisa, isso é normal, ninguém sabe tudo e assuma isso! Eu não faço a mínima ideia do que seja o movimento "Trovadorismo" e assumo isso, não invento teoria dizendo que é um movimento musical baseado no ritmo dos trovões criados por Thor em momentos de fúria.
Só pense.
- enviado por Tacio Philip às 23:27:52 de 01/11/2017.
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