Há cerca de um ano e meio, dia 26/Out/2009, saí de São Paulo e segui com alguns amigos para a Pedra Grande de Atibaia, onde minha meta era escalar a via Dont Do It, um via em artificial que segue por uma micro fenda em um grande bloco negativo próximo do cume (que eu já olhava há algum tempo).
Chegando em Atibaia, depois de montar um top na chaminé lateral para o pessoal me equipei e comecei a subí-la. O começo foi bem, sequência de micronuts, algum microfriend e cheguei no seu crux, na metade da parede. Lá fui testar um Camhook (equipo para escalada artificial) que eu havia comprado há pouco tempo, me apoiei nele, fui subir um drgrau e... voei! Resumindo, levei uma bela queda onde saquei 3 peças da parede e tive o grande azar de uma delas (a primeira, o camhook) acertar em cheio minha mão e me lesionar (o que me rendeu alguns meses sem poder escalar direito e depois alguns muitos Reais para as sessões de fisioterapia esportiva). Mais detalhes desse dia podem ser vistos no link Voando (e abrindo o ziper) em escalada na Pedra Grande de Atibaia.
O tempo passou, em 2010 não fiz nenhuma escalada artificial mas, com a chegada da temporada 2011, e com planos de escalar outro bigwall, veio à necessidade de treinar. Inicialmente pensei em treinar no Visual das Águas escalando a via do teto (A1), a Fenda do Francês (A2) e por ai vai, mas depois de pensar mais um pouco pensei em ir direto para um tratamento de choque: escalar a via que eu havia me machucado em 2009.
Na 4ª feira, logo depois do almoço busquei o Defender (resolvi voltar a usá-lo na temporada de escalada), a Aline e eu pegamos estrada e na metade da tarde estavamos na base da via. Lá me equipei, respirei fundo e, às 16h10, comecei a escalada. Coloquei um primeiro micronut, subi no estribo, coloquei um segundo micronut (ele saiu e acertou meu capacete), recoloquei e ele aguentou e continuei a subida.
O começo da via foi bem estressante, como não escalava esse tipo de via há mais de 1 ano fui bem devagar, relembrando os conceitos, tentando não fazer nada errado e, principalmente, não cair.
Depois de alguns minutos peguei um pouco mais de ritmo e, depois de uma sequência de umas 4 colocações ruins (que dificilmente aguentariam uma queda) coloquei a primeira proteção à prova de bomba. Lá pude respirar um pouco. Na sequência outra proteção excelente (melhor ainda que a anterior) e em seguida uma péssima, um micronut nº1 em uma fenda rasa! Mas como tinha boas proteções abaixo segui e ele suportou bem o meu peso, mas isso era só o começo.
Nessa hora cheguei no crux da via, um lance com fenda paralela, fina e rasa, onde não cabia nada decente! E tinha sido nesse lance que eu cai usando o camhook na tentativa anterior. Fiquei uns 5 min parado olhando para a parede, descansando, respirando, pensando até que vi que a única saída para eu continuar era usando o camhook (que eu não estava nem um pouco animado em usar) ou um copperhead, equipamento que eu nunca havia usado. Na dúvida decidi pelo copperhead.
O copperhead parece com um nut mas a diferença é que sua cabeça é redonda, de cobre, e ele deve ser literalmente martelado na fissura onde será preso. É um equipamento que suporta apenas o seu peso (sendo otimista) e não uma queda. Prestando muita atenção e lembrando na teoria de colocação o fixei e vi que ele realmente funciona. Coloquei o estribo, transferi meu peso e continuei a escalada.
Dali em diante a via foi melhorando, teve só uma outra colocação duvidosa mas depois cheguei em uma sequência com 3 microfriends excelentes, o que me fez relaxar e seguir sem perda de tempo até o final da via, onde há um "P". E já era 17h40, 1h30 para escalar os cerca de 12 metros daquela fenda negativa!
No topo montei meu rapel, desci tirando as peças da via (algumas deram trabalho para tirar) e, com as últimas luzes da tarde, descemos de volta para o carro e de lá seguimos para o centro de Atibaia para uma merecida esfiha no Califa e depois mais estrada de volta para São Paulo.
A escalada dessa via foi muito tensa, em vários lances eu estava bem adrenado mas no final correu tudo bem e recuperei boa parte da confiança em escalada artificial com esse tratamento de choque. Agora é só treinar mais um pouco e nos próximos meses encarar os verdadeiros desafios.
As fotos feitas pela Aline durante a escalada estão no link Escalada Artificial em Atibaia e abaixo um vídeo feito durante uma pausa para respirar.
- enviado por Tacio Philip às 11:16:48 de 26/05/2011.