Na 4ª feira à noite, aproveitando o feriado prolongado, saímos de São Paulo a Paulinha e eu rumo ao Planalto do Parque Nacional do Itatiaia (PNI). Dessa vez, como o trecho de estrada de terra é pequeno (cerca de 14km) e eu queria chegar mais descansado, em vez de irmos de Defender fomos de Weekend e antes das 2h da madrugada estávamos estacionados próximos ao Brejo da Lapa e colocando as mochilas nos bancos dianteiros, rebatendo o banco traseiro e abrindo os sacos de dormir para uma confortável noite no porta-malas do carro.
No dia seguinte acordamos pouco antes das 7h, arrumamos a cama (ou melhor, o porta-malas) e logo estávamos na portaria 3 entrando no PNI. Deixamos o carro no estacionamento, pegamos as mochilas e seguimos para o abrigo Rebouças onde passaríamos os próximos dias.
No abrigo tomamos nosso café da manhã, rearrumamos as mochilas só com o que precisaríamos para nossa tentativa de chegar ao Pico da Maromba pelo vale atras do Agulhas e às 9h30 começamos a caminhada. No começo estava tudo ótimo, tempo nublado mas com boa visibilidade e logo estávamos na trilha que leva até o colo entre a Asa de Hermes e o Agulhas Negras. Bem nessa hora o clima começou a piorar e a neblina que estava longe desceu sobre nós trazendo uma interminável garôa.
Enchemos nossos camel-back no riacho antes do trepa-pedra que sobe pelo colo entre as montanhas e logo estávamos subindo pedra, descendo pedra, subindo pedra, descendo pedra, etc, etc e etc. Em alguns trechos sofri ainda um pouco mais: para acelerar o processo e ajudar a Paulinha ela seguiu alguns momentos sem mochila enquanto eu ia e voltava para carregar as duas.
Fomos seguindo os poucos totens que indicam o caminho e logo passamos do trecho onde se desvia para a esquerda para subir a asa e continuamos em frente em um trepa-pedra cada vez pior (e mais molhado). Em alguns poucos momentos encontrávamos algum totem antigo, provavelmente da "trilha" que circunda o Agulhas e, como o tempo só piorava, nossa progressão estava muito lenta e não tinhamos mais a mínima esperança de melhora no caminho decidimos abandonar nossa idéia inicial de ir para o Maromba por esse caminho (estávamos a mais de 4km da montanha e só para atravessar um trecho de uns 200m levamos mais de 1h!).
Apesar de um pouco decepcionado por ter que abandonar a idéia inicial tão cedo não queríamos voltar para o abrigo (e muito menos pelo caminho que tinhamos ido). Olhei então no GPS e vi que estávamos "perto" da Pedra do Sino de Itatiaia, a 3ª montanha mais alta do PNI e 9ª mais alta do Brasil de acordo com o anuário estatístico do IBGE. Eu havia subido essa montanha em 2006 e não me importaria nem um pouco de repetí-la, então dei a idéia para a Paulinha e ela topou na hora.
Paramos de descer para o vale e começamos então a circundar a montanha onde fica a Asa de Hermes (por sua face Leste - lado oposto da Asa) em um vara mato ruim mas muito melhor que o trepa-pedra anterior (onde eu sempre dizia: Tá ruim mas ta bom!). Fomos seguindo por onde dava e logo encontrei o melhor lugar para bivac que eu estive na minha vida: uma grande pedra que deve ter uns 20 metros de altura e com um vão formando uma canerninha totalmente plana e protegida do vento e chuva. Quando cheguei nesse lugar, às 14h30, pensei: hoje não saio daqui! E foi o que fizemos, montamos nosso acampamento, preparamos nosso jantar e ficamos descansando e conversando até pegarmos no sono com o cair da noite.
A noite foi fria (5ºC) mas com certeza não há lugar no parque tão bom para um bivac como aquele e fiquei muito feliz por tê-lo descoberto.
Na manhã seguinte tomamos café, enrolamos um bom tempo e às 9h30 começamos a caminhar. Minha idéia inicial foi tentar subir um pouco contornando a pedra da caverninha e seguir para Nordeste na direção do Sino mas logo tive que mudar de idéia porque chegamos em um trecho onde os trepa-pedra ficaram muito altos e tivemos que voltar para nosso acampamento. De lá às 10h30 saímos pelo caminho sugerido pela Paula: descer para o vale do Rio (onde aproveitamos para recarregar nossa água) e contornar a face Sul da Pedra do Sino de Itatiaia sentido Leste até encontrarmos lajes de Pedra que nos levasse até o cume e foi o que fizemos. A trilha foi desgastante com muito vara-mato mas às 13h30 estávamos embaixo de muito vento e frio assinando alguns restos de papel molhados que encontramos em um pote plástico próximo do cume (onde era a casa de uma grande aranha). Esse livro de cume esta em péssima condição, tentei recuperá-lo um pouco e colocá-lo em uma sacola plástica antes de colocá-lo no lugar e foi assinado apenas uma vez, em 2006! É provável que outras pessoas tenham subido até o cume da montanha nesse período, mas como o livro não está no cume mais alto pouca gente deve encontrá-lo.
Fizemos algumas poucas fotos e vídeo e fomos então para o cume mais alto da Pedra para mais uma breve sessão de fotos e vídeo. De lá, sem visibilidade alguma, achamos mais prudente voltar pela trilha marcada por totens que nos levou até o Vale dos Dinossauros e depois para a base dos Ovos de Galinha na travessia Rebouças-Mauá (se o clima estivesse bom tentaríamos seguir direto para a Pedra do Altar, um caminho muito mais curto mas também sem trilha aberta.
De volta a uma trilha aberta, em uma parte da travessia Rebouças-Mauá (que inclusive está sendo muito bem conservada com diversos trechos com mato cortado e jogado sobre a trilha para mantê-la aberta e evitar erosão) seguimos até chegarmos ao lado da Pedra do Altar (onde aproveitamos para uma esticadinha até seu cume para mais algumas fotos) e com o cair da noite e headlamps na cabeça descemos por sua trilha de volta para o Abrigo Rebouças, onde chegamos por volta das 19h.
No abrigo um banho rápido mas quente (isso mesmo!) graças a um galão de plástico com chuveiro adaptado pelo Anderson, um mais que merecido jantar e uma noite de sono em uma cama com agradáveis 15ºC (bem que eu havia dormido muito melhor no bivac, lá pelo menos não precisei dormir com o mp3 no ouvido por causa de uma grande sinfonia de roncos no quarto do abrigo).
A noite demorou mas passou, acordamos cedo e logo fomos ver como estava o clima: péssimo! Minha idéia de aproveitar o dia para repetir mais alguma montanha (quem sabe o Urubu onde tivemos embaixo de chuva) foi por água abaixo. Com o clima ruim e querendo evitar o trânsito na chegada em São Paulo do Domingo resolvemos partir então no mesmo dia.
Ficamos no abrigo conversando olhando a chuva, por volta das 12h almoçamos e às 13h começamos a longa e muito molhada caminhada até o carro (apenas 2km mas o suficiente para nos molhar bem!). No carro trocamos as roupas, passamos pela portaria e de lá o caminho de sempre por mais 300km até chegar em São Paulo.
Apesar do feriado no PNI não ter sido como haviamos planejado não temos o que reclamar: Percebemos que acessar o Pico da Maromba por aquele caminho é realmente inviável, achamos um excelente ponto para bivac (se você já esteve por lá entre em contato), subimos a Pedra do Sino de Itatiaia por uma nova rota por sua face Sudeste a atravessando rumo ao Norte e também fizemos o cume da Pedra do Altar (11ª mais alta do Brasil). Com certeza não foi uma viagem perdida e muito em breve espero voltar para lá mais subidas de montanha.
Veja aqui os vídeos e as fotos feitas durante esses dois longos e molhados dias de caminhada.
- enviado por Tacio Philip às 23:10:58 de 05/06/2010.
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